sábado, 27 de agosto de 2011

Tecnologia, seios, coxas e comportamento

Não que eu não queira abordar o assunto sob a ótica da excessiva disponibilidade na internet, do mercado que se move por este motor, pelo acesso, consumo e prática cada vez mais precoce pelos jovens, pela enormidade de tipos, classes, gostos à disposição em esquinas e mais esquinas, pela exposição desmensurada e muito mais. Mas gostaria de abordar a pornografia por uma outra ótica. 
A cada segundo cerca de 40 mil pessoas acessam conteúdo pornográfico na internet. 
O volume de upload de vídeos e fotos diário é assustador. É uma indústria gigantesca, de proporção mundial que movimenta, segundo a Strategy Analytics,  bilhões de dólares por ano. O catecismos de Zéfiro realmente ficaram na pré-história. Mas a culpa de tantos peitos expostos não é da internet. A televisão, cinema, VHS, linhas 0900, CDROMs tem mais relação com a pornografia que podemos imaginar. 
O escritor canadense Patchen Barss diz em seu livro The Erotic Engine (*) lançado em 2010 que há uma relutância em se dizer, mas muitas das tecnologias inovadoras que hoje estão em nossas casas tiveram seus pilotos testados pelo mercado da pornografia. O mundo das diversões adultas é um verdadeiro e lucrativo campo de testes para novas tecnologias de informação e comunicação.


Vejam alguns exemplos. 
Nos anos 70 o lançamento de dois sistemas de videocassete (VHS da JVC e o Betamax da Sony) dividiam o mercado. A tecnologia da Sony tinha muito mais qualidade, mas eles tinham uma regra de não permitir a gravação de conteúdo erótico. Os estúdios pornôs aderiram ao VHS para distribuir seus filmes. Em pouco tempo a Sony descontinuou o Betamax. 
Nos anos 80, o Disque Sexo, com venda por minuto de conversas picantes se desdobraria na década seguinte em tecnologias de consumo por demanda (pay per view). As primeiras imagens que surgiram na Usenet nos anos 80 eram pornográficas com acesso restrito a quem não pagasse. Daí surgiram os sistemas de assinaturas online. 
Nos anos 90, antes do Youtube, centenas de sites pornôs já hospedavam seus vídeos, mas que exigiam muita performance para exibição. A tecnologia de transmissão de videos por streaming (**) resolveria este problema e alavancaria um mercado enorme de webcams disponibilizando shows com strippers. 
Alguns especialistas preveem um futuro cada vez mais digital para este mercado. Empresas já produzem vídeos 3D, pesquisam as possibilidades de uso da realidade virtual e roupas com acessórios sensoriais conectadas. 
Contudo, grandes e pequenas produtoras em todo mundo continuam oferecendo DVDs e discos de Blueray com seus filmes. Não se trata de um único campo de ensaios tecnológicos, obviamente. Os videogames representam o grande campo incentivador de evolução tecnológica digital. Mas a pornografia tende a ser mais influente quando a tecnologia tem papel de comunicação. 
E é um mercado que age e sabe como ninguém capturar seu consumidor cada vez com mais novidades. Barss cita que é por só por causa de nossa instintiva necessidade de ter sexo, mas também de comunicar o sexo. Mas uma coisa é certa: o mundo da tecnologia de comunicação e entretenimento não admite, mas possuem uma grande dívida com o mundo da pornografia.

(*) The Erotic Engine – How pornography has powered mass communication, from Gutenberg to Google ( Motor Erótico – Como a pornografia potencializou a comunicação de massa, de Gutemberg ao Google)
(**) Streaming permite que se veja vídeos de boa qualidade pela web, sem que seja necessário o armazenamento de nenhum dado no computador de quem assiste, sendo reproduzindo automaticamente na tela.

Fontes:
Johnson, Peter – Pornography drives technology: why not to censor the intenet. New York Law School.
Barss, Patchen - The Erotic Engine – How pornography has powered mass communication, from Gutenberg to Google
Revista Galileu, fevereiro 2011 – Editora Globo