Este livre comentário é sobre o capítulo oito do livro de Neil Postman - Tecnopólio - que foi umas das minhas mais interessantes leituras.
Segundo Postman, o idioma é pura ideologia pois é um conjunto de suposições que temos consciência e que dirigem nossos esforços para dar forma e consistência ao mundo, dividindo-o em sujeitos e objetos, indicando como os eventos devem ser vistos e nos instruindo quanto ao tempo, espaço, números. O interessante dessa forma de ver o idioma é sua abrangência, pois suas variações funcionam sob os mesmos princípios e levam a pensar que todos vêem o mundo da mesma maneira independente de qual língua se fale. Por isso acredita-se que é coisa que vem de dentro do homem e que é expressão direta de como é o mundo. O que acontece com as máquinas, televisão e computador por exemplo, é que parecem extensões de nossos poderes, por estarem "fora", terem sido criadas por nós podendo até serem descartadas. O idioma nos é natural e o certo é que não nos preocupamos de que forma ele age, sendo praticamente invisível para nós. Então tecnologias invisíveis existem, complexas ou não, mas controlando algo ou servindo uma ou outra ideologia.
Outra tecnologia invisível, conforme identificou Postman, é o uso do algarismo zero e seu conceito de nulidade e vazio. O zero não foi usado pelos romanos nem pelos gregos, vieram da Índia no século X, mas sem eles seria muito difícil realizar qualquer dos cálculos. Pode ser considerado uma tecnologia por possibilitar e tornar fáceis certos tipos de pensamentos e se não acreditarmos que seja uma ideologia, certamente é uma idéia. É possível então entender como símbolos podem ser considerados máquinas para possibilitar novas disposições mentais.
O uso do zero levou ao desenvolvimento de tecnologias complexas como a estatística e o processo binário dos computadores. A estatística é em si, outra poderosa tecnologia invisível. Tornando visíveis e manipuláveis padrões até então ocultos. Novas visões de mundo em função de probabilidades e incertezas foram criadas. Todas as áreas de atuação do homem são hábeis para a atuação da estatística. Porém, seu uso indiscriminado é digno de cautela e a tentativa de transformar tudo e qualquer manifestação humana ou da natureza em estatística é questionável.
Os teste de QI nos mostram um dos perigos de se abusar da estatística. A quantificação da inteligência baseada em dados e comparações estatísticas mostram alguns aspectos discutíveis, como por exemplo a necessidade da concretização de conceitos abstratos como a inteligência, transformando-a em uma coisa, seguido de uma inevitável classificação onde a necessidade de uma simplificaão transforma agora a inteligência em uma coisa única localizada no cérebro.
O reducionismo é perigoso, mas isto serve bem a essa nova era de tecnopólio e mesmo que correntes científicas se posicionem contra e questionem, o tecnopólio resiste a essas censuras por não ter um sistema de ética. Ele busca então, novamente na objetividade estatística, o seu conforto.
A pesquisa de opinião, embasadas em estatística é outra tecnologia invisível. Impossível pensar em um mundo capitalista onde a pesquisa de opiniã não existisse. O mercado, a indústria, a igreja, o Estado precisam dela. O único problema continua sendo o reducionismo. Nem tudo pode ser respondido como sim ou não. A maneira como a pergunta é formulada torna ambígua a resposta. É necessário acreditar que a opinião está pronta dentro da pessoa bastando uma pergunta certa para extraí-la. Se a pessoa tem conhecimento ou não sobre o assunto que é objeto da pesquisa é irrelevante. Logo os resultados são questionáveis mas certamente serão utilizados para orientar alguma tendência, independente se desviam responsabilidades, reforçam conceitos errados ou não. É a opinião pública!
Algumas tecnologias existem e ficam em "repouso".
Elas servem à outras tecnologias e as vezes nem parecem ser tecnologias, mas servem para orientar uma aceitação e mudar as formas de como vemos o mundo. Os cursos acadêmicos fazem isto pois são uma tecnologia de aprendizado. No mundo dos negócios a tecnologia da administração faz uso máximo de conhecimento relevante, da organização hierárquica das capacidades humanas e do fluxo de informações.
As tecnologias cumprem seu papel de maneira coerente e por se tratarem de tecnologia não são más ou boas. O uso que damos a elas é que precisam constantemente de observação, análise e contextualização. Essa nova era de tecnopólio faz uso do que mais lhe serve e esta sua característica justifica a necessidade de controle pelo homem, das aplicações de todas estas tecnologias.
POSTMAN, Neil - TECNOPÓLIO: A rendição da cultura à tecnologia, tradução de Reinaldo Guarany - São Paulo: Nobel, 1994.
Segundo Postman, o idioma é pura ideologia pois é um conjunto de suposições que temos consciência e que dirigem nossos esforços para dar forma e consistência ao mundo, dividindo-o em sujeitos e objetos, indicando como os eventos devem ser vistos e nos instruindo quanto ao tempo, espaço, números. O interessante dessa forma de ver o idioma é sua abrangência, pois suas variações funcionam sob os mesmos princípios e levam a pensar que todos vêem o mundo da mesma maneira independente de qual língua se fale. Por isso acredita-se que é coisa que vem de dentro do homem e que é expressão direta de como é o mundo. O que acontece com as máquinas, televisão e computador por exemplo, é que parecem extensões de nossos poderes, por estarem "fora", terem sido criadas por nós podendo até serem descartadas. O idioma nos é natural e o certo é que não nos preocupamos de que forma ele age, sendo praticamente invisível para nós. Então tecnologias invisíveis existem, complexas ou não, mas controlando algo ou servindo uma ou outra ideologia.
Outra tecnologia invisível, conforme identificou Postman, é o uso do algarismo zero e seu conceito de nulidade e vazio. O zero não foi usado pelos romanos nem pelos gregos, vieram da Índia no século X, mas sem eles seria muito difícil realizar qualquer dos cálculos. Pode ser considerado uma tecnologia por possibilitar e tornar fáceis certos tipos de pensamentos e se não acreditarmos que seja uma ideologia, certamente é uma idéia. É possível então entender como símbolos podem ser considerados máquinas para possibilitar novas disposições mentais.
O uso do zero levou ao desenvolvimento de tecnologias complexas como a estatística e o processo binário dos computadores. A estatística é em si, outra poderosa tecnologia invisível. Tornando visíveis e manipuláveis padrões até então ocultos. Novas visões de mundo em função de probabilidades e incertezas foram criadas. Todas as áreas de atuação do homem são hábeis para a atuação da estatística. Porém, seu uso indiscriminado é digno de cautela e a tentativa de transformar tudo e qualquer manifestação humana ou da natureza em estatística é questionável.
Os teste de QI nos mostram um dos perigos de se abusar da estatística. A quantificação da inteligência baseada em dados e comparações estatísticas mostram alguns aspectos discutíveis, como por exemplo a necessidade da concretização de conceitos abstratos como a inteligência, transformando-a em uma coisa, seguido de uma inevitável classificação onde a necessidade de uma simplificaão transforma agora a inteligência em uma coisa única localizada no cérebro.
O reducionismo é perigoso, mas isto serve bem a essa nova era de tecnopólio e mesmo que correntes científicas se posicionem contra e questionem, o tecnopólio resiste a essas censuras por não ter um sistema de ética. Ele busca então, novamente na objetividade estatística, o seu conforto.
A pesquisa de opinião, embasadas em estatística é outra tecnologia invisível. Impossível pensar em um mundo capitalista onde a pesquisa de opiniã não existisse. O mercado, a indústria, a igreja, o Estado precisam dela. O único problema continua sendo o reducionismo. Nem tudo pode ser respondido como sim ou não. A maneira como a pergunta é formulada torna ambígua a resposta. É necessário acreditar que a opinião está pronta dentro da pessoa bastando uma pergunta certa para extraí-la. Se a pessoa tem conhecimento ou não sobre o assunto que é objeto da pesquisa é irrelevante. Logo os resultados são questionáveis mas certamente serão utilizados para orientar alguma tendência, independente se desviam responsabilidades, reforçam conceitos errados ou não. É a opinião pública!
Algumas tecnologias existem e ficam em "repouso".
Elas servem à outras tecnologias e as vezes nem parecem ser tecnologias, mas servem para orientar uma aceitação e mudar as formas de como vemos o mundo. Os cursos acadêmicos fazem isto pois são uma tecnologia de aprendizado. No mundo dos negócios a tecnologia da administração faz uso máximo de conhecimento relevante, da organização hierárquica das capacidades humanas e do fluxo de informações.
As tecnologias cumprem seu papel de maneira coerente e por se tratarem de tecnologia não são más ou boas. O uso que damos a elas é que precisam constantemente de observação, análise e contextualização. Essa nova era de tecnopólio faz uso do que mais lhe serve e esta sua característica justifica a necessidade de controle pelo homem, das aplicações de todas estas tecnologias.
POSTMAN, Neil - TECNOPÓLIO: A rendição da cultura à tecnologia, tradução de Reinaldo Guarany - São Paulo: Nobel, 1994.