quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Tecnologia, Tecnologia da informação e o Pensamento Tecnológico (Parte 02)

Tempos atrás postei a parte 01. Era um panorama sobre os pensadores  e o pensamento sobre tecnologia atuais. Pretendo continuar com este post propondo um nivelamento de alguns conceitos. Sem reducionismo, apenas para dar sentido à análise que implementei. Colaborem, comentem, enriqueçam a discussão.
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Algo grandioso cerca o homem atual. Um aparente poder de controle, tanto de informação como de alcances. Alcance da voz, da imagem e uma sensação nova de compartilhamento e interação. Um mundo de terminologias transmuta os sentidos e propõe formas novas de pensar e relacionar. Não se pensa em viver no Séc. XXI sem interagir, disponibilizar e comunicar. A Informação é nossa mais recente revolução tecnológica. A disponibilização intensiva da informação é característica desta fase. Fala-se de Sociedade da Informação como novo cenário de atuação do homem. Contudo é importante perceber como e o quanto essa evolução tecnológica provoca de mudanças no comportamento e na cultura.
 
Tecnologia
O mundo atual e toda tecnologia inúmeras vezes nos trazem visões otimistas que emolduram os avanços e colocam o homem como beneficiário da longevidade, interação, sinergia e diversidade. O preço não é baixo. Desmatamento, aquecimento, falta de alimentos continuam assombrando. Agora temos disponibilização irrestrita de informação e ferramentas associadas criando possibilidades antes impensáveis, como, mapear um novo espaço de conhecimento não por topografia e sim por topologia. Uma nova cultura e paradigma surgem no planeta e nos remete a pensar e lidar com informação de uma forma que tem a ver com construção e com organização da realidade (Pellanda, 2000). Tecnologia é definida como ferramentas e máquinas que nos ajudam a resolver problemas, técnicas, conhecimentos, processos usados para construção, aplicação de recursos para o desenvolvimento. Às vezes entra em conflito com a sociedade e ecologia. Suas relações com a cultura são constantes preocupações. Várias definições foram criadas para demonstrar a cronologia dos avanços da tecnologia. Observa-se que a cronologia da existência do homem e das sociedades possui marcos, quase sempre relacionados com as revoluções tecnológicas. Grandes viradas na forma de vida e pensamento são relacionados às invenções e ferramentas, o que reforça o conceito de que a evolução se baseia na progressão delas. Isto é absorvido pela cultura e adaptada para a melhoria da vida do homem. E cultura aqui é definida como o aspecto da vida social que se relaciona com o saber, arte, folclore, costumes, bem como à sua perpetuação por gerações. Focando então, nestas mudanças identificamos invenções tecnológicas que promoveram uma ruptura na estruturação baseada na produção de bens e energia para a de consumo da informação:
- A difusão do vapor (fim do séc. XVIII)
- Os motores a combustão e elétrico (final séc. XIX)
- A energia atômica e da eletrônica
- A passagem das tecnologias do capital e energia para as de informação


A descoberta do uso do vapor trouxe mudança comportamental para a sociedade e criou as bases da industrialização. Como exemplo, expansão do território americano para oeste. A eletricidade e os motores à combustão mudaram o cenário da produção industrial e conseqüentemente o cenário social e cultural. Cinema, telefonia, aviação são desta fase. A Eletrônica e a energia alternativa afetaram muito mais o comportamento. A energia nuclear dividiu o mundo em blocos e a eletrônica propiciou a aproximação das culturas pela telecomunicação. O telégrafo data 1845 e em menos de 20 anos já interligava a Europa e os EUA. A primeira transmissão radiofônica é de 1908. Em 1925 são criadas normas para controle da proliferação de emissoras. A televisão data 1926. Em 1951 temos TV à cores. A União Soviética lançou um satélite em 1957. Em 1960 os EUA lançam o primeiro satélite de comunicação. O computador pessoal é de 1981. Em 2008, 1 bilhão deles estavam ligados em rede. Atualmente a tecnologia digital promove mudanças sem igual na história do homem. A convergência das tecnologias da comunicação (telecomunicação) e os computadores criaram um ambiente propício para o nascimento de um novo ramo, a tecnologia da informação.
 
Tecnologia da Informação
Transmissões analógicas e digitais, integrações de redes, processamento distribuídos, rede mundial, todos estes desenvolvimentos associados às melhorias de processamento e armazenamento fomentam a utilização da informação em larga escala. É indiscutível o aumento da tecnologia da informação nas organizações, e esta é uma força poderosa para mudar o modo como fazemos nosso trabalho. A tecnologia tornou-se não apenas uma ferramenta para administrar a informação, mas também um setor vigoroso em si mesmo  (Davenport, 1997). A convergência tecnológica passa a figurar como característica de todos os serviços envolvidos com informação e a digitalização fornece a infra-estrutura para prover tais serviços. Neste cenário, a tecnologia da informação se define pelo conjunto das tecnologias da utilização simultânea e integrada da informática e da telecomunicação (telemática). Essas adaptações se expandem a toda sociedade e coloca culturas regionais em contatos. Tais mudanças carregam novos conceitos, como transversalidade, interação e autoria, que necessitam ser apropriados e adaptados ao modo de vida anterior à nova tecnologia. E isto afeta a cultura.

proximo post: A Tecnologia centrada no Homem
Existe mesmo uma tendência de centralização no homem e na sociedade afetando os caminhos do desenvolvimento tecnológico?  
 

sábado, 27 de agosto de 2011

Tecnologia, seios, coxas e comportamento

Não que eu não queira abordar o assunto sob a ótica da excessiva disponibilidade na internet, do mercado que se move por este motor, pelo acesso, consumo e prática cada vez mais precoce pelos jovens, pela enormidade de tipos, classes, gostos à disposição em esquinas e mais esquinas, pela exposição desmensurada e muito mais. Mas gostaria de abordar a pornografia por uma outra ótica. 
A cada segundo cerca de 40 mil pessoas acessam conteúdo pornográfico na internet. 
O volume de upload de vídeos e fotos diário é assustador. É uma indústria gigantesca, de proporção mundial que movimenta, segundo a Strategy Analytics,  bilhões de dólares por ano. O catecismos de Zéfiro realmente ficaram na pré-história. Mas a culpa de tantos peitos expostos não é da internet. A televisão, cinema, VHS, linhas 0900, CDROMs tem mais relação com a pornografia que podemos imaginar. 
O escritor canadense Patchen Barss diz em seu livro The Erotic Engine (*) lançado em 2010 que há uma relutância em se dizer, mas muitas das tecnologias inovadoras que hoje estão em nossas casas tiveram seus pilotos testados pelo mercado da pornografia. O mundo das diversões adultas é um verdadeiro e lucrativo campo de testes para novas tecnologias de informação e comunicação.


Vejam alguns exemplos. 
Nos anos 70 o lançamento de dois sistemas de videocassete (VHS da JVC e o Betamax da Sony) dividiam o mercado. A tecnologia da Sony tinha muito mais qualidade, mas eles tinham uma regra de não permitir a gravação de conteúdo erótico. Os estúdios pornôs aderiram ao VHS para distribuir seus filmes. Em pouco tempo a Sony descontinuou o Betamax. 
Nos anos 80, o Disque Sexo, com venda por minuto de conversas picantes se desdobraria na década seguinte em tecnologias de consumo por demanda (pay per view). As primeiras imagens que surgiram na Usenet nos anos 80 eram pornográficas com acesso restrito a quem não pagasse. Daí surgiram os sistemas de assinaturas online. 
Nos anos 90, antes do Youtube, centenas de sites pornôs já hospedavam seus vídeos, mas que exigiam muita performance para exibição. A tecnologia de transmissão de videos por streaming (**) resolveria este problema e alavancaria um mercado enorme de webcams disponibilizando shows com strippers. 
Alguns especialistas preveem um futuro cada vez mais digital para este mercado. Empresas já produzem vídeos 3D, pesquisam as possibilidades de uso da realidade virtual e roupas com acessórios sensoriais conectadas. 
Contudo, grandes e pequenas produtoras em todo mundo continuam oferecendo DVDs e discos de Blueray com seus filmes. Não se trata de um único campo de ensaios tecnológicos, obviamente. Os videogames representam o grande campo incentivador de evolução tecnológica digital. Mas a pornografia tende a ser mais influente quando a tecnologia tem papel de comunicação. 
E é um mercado que age e sabe como ninguém capturar seu consumidor cada vez com mais novidades. Barss cita que é por só por causa de nossa instintiva necessidade de ter sexo, mas também de comunicar o sexo. Mas uma coisa é certa: o mundo da tecnologia de comunicação e entretenimento não admite, mas possuem uma grande dívida com o mundo da pornografia.

(*) The Erotic Engine – How pornography has powered mass communication, from Gutenberg to Google ( Motor Erótico – Como a pornografia potencializou a comunicação de massa, de Gutemberg ao Google)
(**) Streaming permite que se veja vídeos de boa qualidade pela web, sem que seja necessário o armazenamento de nenhum dado no computador de quem assiste, sendo reproduzindo automaticamente na tela.

Fontes:
Johnson, Peter – Pornography drives technology: why not to censor the intenet. New York Law School.
Barss, Patchen - The Erotic Engine – How pornography has powered mass communication, from Gutenberg to Google
Revista Galileu, fevereiro 2011 – Editora Globo

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Tecnologias invisí­veis


Este livre comentário é sobre o capí­tulo oito do livro de Neil Postman - Tecnopólio - que foi umas das minhas mais interessantes leituras.


Segundo Postman, o idioma é pura ideologia pois é um conjunto de suposições que temos consciência e que dirigem nossos esforços para dar forma e consistência ao mundo, dividindo-o em sujeitos e objetos, indicando como os eventos devem ser vistos e nos instruindo quanto ao tempo, espaço, números. O interessante dessa forma de ver o idioma é sua abrangência, pois suas variações funcionam sob os mesmos princípios e levam a pensar que todos vêem o mundo da mesma maneira independente de qual lí­ngua se fale. Por isso acredita-se que é coisa que vem de dentro do homem e que é expressão direta de como é o mundo. O que acontece com as máquinas, televisão e computador por exemplo, é que parecem extensões de nossos poderes, por estarem "fora", terem sido criadas por nós podendo até serem descartadas. O idioma nos é natural e o certo é que não nos preocupamos de que forma ele age, sendo praticamente invisível para nós. Então tecnologias invisíveis existem, complexas ou não, mas controlando algo ou servindo uma ou outra ideologia.

Outra tecnologia invisível, conforme identificou Postman, é o uso do algarismo zero e seu conceito de nulidade e vazio. O zero não foi usado pelos romanos nem pelos gregos, vieram da Índia no século X, mas sem eles seria muito difícil realizar qualquer dos cálculos. Pode ser considerado uma tecnologia por possibilitar e tornar fáceis certos tipos de pensamentos e se não acreditarmos que seja uma ideologia, certamente é uma idéia. É possí­vel então entender como sí­mbolos podem ser considerados máquinas para possibilitar novas disposições mentais. 
O uso do zero levou ao desenvolvimento de tecnologias complexas como a estatística e o processo binário dos computadores. A estatí­stica é em si, outra poderosa tecnologia invisível. Tornando visíveis e manipuláveis padrões até então ocultos. Novas visões de mundo em função de probabilidades e incertezas foram criadas. Todas as áreas de atuação do homem são hábeis para a atuação da estatística. Porém, seu uso indiscriminado é digno de cautela e a tentativa de transformar tudo e qualquer manifestação humana ou da natureza em estatí­stica é questionável. 
Os teste de QI nos mostram um dos perigos de se abusar da estatí­stica. A quantificação da inteligência baseada em dados e comparações estatí­sticas mostram alguns aspectos discutí­veis, como por exemplo a necessidade da concretização de conceitos abstratos como a inteligência, transformando-a em uma coisa, seguido de uma inevitável classificação onde a necessidade de uma simplificaão transforma agora a inteligência em uma coisa única localizada no cérebro. 
O reducionismo é perigoso, mas isto serve bem a essa nova era de tecnopólio e mesmo que correntes científicas se posicionem contra e questionem, o tecnopólio resiste a essas censuras por não ter um sistema de ética. Ele busca então, novamente na objetividade estatí­stica, o seu conforto.
A pesquisa de opinião, embasadas em estatística é outra tecnologia invisível. Impossível pensar em um mundo capitalista onde a pesquisa de opiniã não existisse. O mercado, a indústria, a igreja, o Estado precisam dela. O único problema continua sendo o reducionismo. Nem tudo pode ser respondido como sim ou não. A maneira como a pergunta é formulada torna ambí­gua a resposta. É necessário acreditar que a opinião está pronta dentro da pessoa bastando uma pergunta certa para extraí­-la. Se a pessoa tem conhecimento ou não sobre o assunto que é objeto da pesquisa é irrelevante. Logo os resultados são questionáveis mas certamente serão utilizados para orientar alguma tendência, independente se desviam responsabilidades, reforçam conceitos errados ou não. É a opinião pública!
Algumas tecnologias existem e ficam em "repouso". 
Elas servem à outras tecnologias e as vezes nem parecem ser tecnologias, mas servem para orientar uma aceitação e mudar as formas de como vemos o mundo. Os cursos acadêmicos fazem isto pois são uma tecnologia de aprendizado. No mundo dos negócios a tecnologia da administração faz uso máximo de conhecimento relevante, da organização hierárquica das capacidades humanas e do fluxo de informações. 
As tecnologias cumprem seu papel de maneira coerente e por se tratarem de tecnologia não são más ou boas. O uso que damos a elas é que precisam constantemente de observação, análise e contextualização. Essa nova era de tecnopólio faz uso do que mais lhe serve e esta sua caracterí­stica justifica a necessidade de controle pelo homem, das aplicações de todas estas tecnologias.


POSTMAN, Neil - TECNOPÓLIO: A rendição da cultura à tecnologia, tradução de Reinaldo Guarany - São Paulo: Nobel, 1994.