quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Folksonomia e a arquitetura de participação


A sistemática, catalogação e categorização dos seres vivos se dá pela taxonomia. Tal conceito expandiu-se ao longo dos anos, evoluindo e ampliando áreas de domínio. Podemos aplicar um princípio ou esquema taxonômico a quase todas as coisas que lidamos no dia-a-dia - seres vivos ou objetos, conceitos ou processos, etc. A classificação nos é intuitiva. Classificamos naturalmente. E segundo alguns antropologistas a cultura e os sistemas sociais são fatores importantes nessa nossa natural tendência de classificação. E são algumas emergentes funções sociais relacionadas as redes de informação que se utilizam desta taxonomia dita popular([1]para promover compartilhamento de classificações interculturais donde pode-se esperar um enriquecimento semântico da informação disponível nos propiciando, quem sabe, uma troca real de conhecimento.


Em 2004, Thomas Vander Wal([2]) apresentou o conceito de uma taxonomia cujo diferencial se baseava na construção a partir do linguajar natural de uma comunidade.Ele acreditava que a cultura, o conhecimento local, as relações sociais dos habitantes de uma comunidade, quando categorizadas e classificadas por eles mesmos, ganhariam uma entendimento peculiar que representaria melhor aquela comunidade. 
A analogia a taxonomia, então chamada de folksonomia (folks=povo, pessoas) se diferenciava da taxonomia clássica, porque primeiro são definidas as categorias do índice para depois se encaixar as informações em uma delas (em apenas uma), enquanto que na folksonomia se permite cada usuário a classificar a informação com uma ou mais palavras-chaves, conhecidas como tags ou marcadores. Estas informações podem ser compartilhadas, recuperadas e relacionadas com para se obter e identificar graus de similaridade de conceito, índices de incidência, identificar grau de popularidade, número de citações, etc. O alto grau de liberdade para categorização acentua a descentralização do processo poisquem classifica um conteúdo são as próprias pessoas interessadas no mesmo, com diversos graus de envolvimento tanto de conhecimento, quanto por experiência, ou sentimento. A valoração e o sensorial aparecem então como outros referenciais possíveis.
Ferramentas digitais foram criadas sob este novo conceito e então disponibilizadas na web e são partes importantes na mudança do comportamento para a Web2.0 e partes fundamentais para a Web3.0 (ver postagem abaixo). O primeiro site a usar folksonomia foi o Del.icio.us em 2003, em seguida, o Flickr e o YouTube. De lá para cá são inúmeros os sites que se baseiam na folksonomia e que deram origem ao termo Social Bookmarking, conceito que não deve ser confundido com a marcação dos Favoritos disponíveis nos browsers de navegação, que estão mais para marcadores de livros, estáticos e presos aos seus donos.
O Social Bookmarks salva a página favorita diretamente em um servidor donde possa ser partilhado e relacionados com os outros usuários. Este relacionamento permite pesquisas quer nas nossas tags, quer nas tags dos outros usuários Deste modo, podemos encontrar pessoas com os mesmos interesses e "descobrir" novos sites relacionados com o mesmo assunto, potenciando, assim, o compartilhamento e a colaboração.
Alguns outros exemplos de sites social bookmarks são LastFM, o StumbleUpon, Connotea, Digg, LinkedIn, etc. Os sites de relacionamento social como Facebook, Twitter, Pinterest ou mesmo os blogs utilizam social bookmarks baseados em folksonomia.
Dentre as vantagens de se utilizar folksonomia estão o caráter colaborativo/social, a liberdade do trabalho etiquetagem de pelo usuário, a possibilidade de se criar automaticamente comunidades em torno de assuntos comuns e principalmente o aprendizado diferenciado pela dimensão de valoração dado pelos usuários e seus assuntos etiquetados. As diferenças de uma leitura (textual, imagética, sensorial, etc.) de um indivíduo enriquece semanticamente uma definição prévia. Enfim, podemos acrescentar conteúdos relacionais nas fotos, textos, palavras, imagens, gráficos, músicas, informações etc. gerando conhecimento compartilhado.

O Del.icio.us
 Foi o primeiro site a disponibilizar etiquetagem baseada em folksonomia. Utilizo o Delicious desde 2003 (http://delicious.com/leoliveraquando foi lançado. pelo seu desenvolvedor Joshua Schachter. Em 2005 foi adquirido pelo Yahoo e em 2011, porChad Hurley e Steve Chen,os dois fundadores do YouTube. Tais mudanças de gestão trouxeram evoluções bem como algumas perdas. Hoje ele se foca mais em Social Bookmarking, mas mantém ainda o poder de pesquisa e contato com usuários semanticamente alinhados, o que definiu por muito tempo o uso pela comunidade acadêmica. Atualmente sob o controle da companhia Avos Systems, o Delicious perdeu uma das mais interessantes ferramentas: os Stacks. Com eles se podia organizar de forma mais interativa toda a estrutura de tags classificadas pelos usuários. Os stacks foram substituidos por nuvens de palavras, baseadas em wordcloud e seu conceito de relevância. Vejam os registros de Delicious seguindo este link (https://delicious.com/leolivera) 



O site oferece o serviço de classificação e relacionamento, indicando usuários que compartilham de uma mesma indexação e possivelmente um mesmo interesse. Permite ainda adicionar e pesquisar bookmarks sobre qualquer assunto, arquivar e catalogar os sites preferidos para acessá-los de qualquer lugar.


[1] Para diferenças entre a taxonomia científica e taxonomia popular ver Durkein, Kant e Lévi-Strauss.
[2]Vander Wal é um arquiteto de informação também conhecido por iniciar o termo "infocloud" (informação nas nuvens). Seu trabalho principalmente lida com a Web, design de informação e estruturação no contexto da tecnologia social.

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